DANIEL PAIXÃO (Cacoal-RO) – Desde o dia 26 de setembro, quando houve o pedido registro de quatro candidaturas a prefeito em Cacoal, já tivemos renúncias de dois candidatos a prefeito, duas renúncias de candidatos a vice-prefeitos, um deles para assumir como candidato a prefeito e a inusitada tentativa de renunciar à própria renúncia. Houve também a homologação em ata partidária de uma candidata a vice-prefeita que sequer poderia ter sido lançada, visto que, por ser funcionária da ALE e não ter se desincompatibilizado, se tentasse ser registrada teria o registro indeferido e foi substituída antes mesmo do pedido de registro.
Agora o imbróglio envolve a coligação “DE GLAUCIONE” que não é mais “DE GLAUCIONE”. O candidato Marco Aurélio Vasques, da Coligação Cacoal Seguindo em Frente, foi apresentado como substituto de Glaucione, do MDB, mas sem o aval do partido da candidata substituída. Agora a própria Coligação entra Contra a Coligação pedindo o indeferimento de Vasques.
Desde a prisão e afastamento da prefeita Glaucione, membros dessa coalizão partidária passaram reunir-se com o objetivo de deliberar sobre a substituição da candidata que sequer havia renunciado. Uma prova disso é que, no dia 26, Tribuna Popular publicou em seu sítio online reportagem com o seguinte título: “Vasques substitui Glaucione na disputa pela prefeitura de Cacoal”. Ocorre que se iniciava aí um conflito e acusações entre membros da coligação. De um lado estavam MDB, Solidariedade e Patriota que se opunham a essa decisão, e de outro DEM, PSL, PSC e PTB que anunciaram a aprovação ao nome de Vasques para substituí-la.
Seguiu-se, então, tentativas de conversas com a prefeita Glaucione para que ela renunciasse à sua candidatura. Essa deliberação prévia e aprovação do nome de Vasques por esses quatro partidos não tinha nenhuma validade jurídica. Caso a prefeita posteriormente viesse a renunciar, aí, sim, conforme determina a lei, os partidos teriam 10 dias para aprovar o nome do substituto, tendo o MDB o direito de preferência, sem que isso lhe garanta a prerrogativa de decidir sozinho. Um eventual candidato do MDB só se tornaria possível com o aval de metade +1 dos líderes signatários da Aliança.
Após difíceis negociações com Glaucione, através de seus advogados, no dia 09 de outubro ela assinou e registrou em cartório um PEDIDO DE RENÚNCIA, entregou-o a um portador “com a recomendação de que esse documento ficasse sob sua guarda até ela decidir o que fazer”. Isso se infere do texto do recurso do MDB que informa à Justiça que aquele PEDIDO DE RENÚNCIA não havia sido feito de forma livre e consciente, tendo em vista que sua redação seria apenas uma forma de contornar as dificuldades enormes de acesso a ela, por estar presa. Assim, caso ela decidisse renunciar posteriormente, o documento já estaria pronto.
Esse argumento, aliás, pareceu bastante coerente. Ela, de fato, poderia estar apenas “facilitando as coisas” para a eventualidade de decidir-se, contando com o compromisso do portador de devolver-lhe, caso ela optasse pela continuidade da campanha. Ocorre que esse portador, segundo o MDB, traiu sua confiança ao entregar o documento a membros do DEM, que, ato contínuo, convocaram os membros da coligação para deliberar sobre a substituição da candidata, no dia 14 de outubro, ocasião em que apresentou a RENÚNCIA e deliberou pela homologação de Vasques como candidato a prefeito. Nessa reunião, o DEM conquistou o apoio do Solidariedade e passou a contar com o aval de 05 partidos dessa coalizão. Ficaram de fora MDB e Patriota.
O pedido de registro de Vasques foi aceito pela Justiça Eleitoral em Cacoal, seu nome já consta do sistema do TSE e ele está em plena campanha. Não obstante, esse recurso aprofunda mais a crise dentro da coligação. Os membros dos cinco partidos acreditam que o registro de Vasques será mantido, mas a complicação é que, assim, ele terá muito trabalho para apaziguar os ânimos e conquistar os votos dos eleitores fiéis a Glaucione. Na última eleição, Glaucione obteve quase 20 mil votos e ele próprio quase 8 mil votos. Em uma conta rápida, percebe-se que ele precisa conquistar pelo menos 70% dos votos que foram dados a Glaucione nas últimas eleições e manter pelo menos 90% dos votos que teve em 2016 para ser eleito.
Se formamos analisar os candidatos, Fúria tem aproximadamente 12 mil votos de entrada, Vasques cerca de 8 mil votos. Sobra os outros 20 mil votos válidos que, na eleição de 2016, foram de Glaucione. Jabá Moreira e Regina Paixão, que nunca foram candidatos a prefeito, terão de tirar votos que foram do Fúria, da Glaucione e do Vasques na eleição passada. O número mágico para eleger um prefeito em Cacoal é 20 mil votos. Claro que, como termos quatro candidatos, é possível ainda alguém se eleger com votação a partir de 14 mil votos. Em sua grande maioria, o perfil do eleitor de Glaucione é ser de direita, conservador, e por isso os candidatos vão ter de ser estratégicos.
Outra situação difícil para os candidatos que, fosse ela candidata seriam seus opositores, é que, em que pese a situação que lhe sobreveio com sua prisão, é inegável que ela foi uma das melhores prefeitas de Cacoal e criticá-la não parece uma boa opção para quem quiser voto de seus eleitores. Além do mais, eleitor não gosta de covardia, de gente que se aproveita da tragédia alheia, para tripudiar sobre ela. A cidade não está um paraíso e problemas sempre existem, mas se compararmos Cacoal de hoje com a Cacoal de 04 anos atrás dá para se perceber o quanto mudou para melhor. Em resumo o que está claro é que “quem mais conseguir avançar no eleitorado dela tem boa chance de se eleger”. Então, nesse caso, está claro: Glaucione, mesmo não sendo candidata, é quem vai decidir os rumos destas eleições.
OBS.: Embora o candidato da coalizão de Glaucione seja o Vasques, que teve seu registro aceito pela Justiça Eleitoral de Cacoal, há um recurso pendente, impetrado pelo MDB, que deve ser julgado no início da próxima semana e existe ainda uma pequena chance de que o quadro de candidatos tenha alteração.
FONTE: TRIBUNA POPULAR