O repórter cinematográfico André Muzell, de 48 anos, precisará passar por cirurgia na boca após ser brutalmente agredido por traficantes enquanto cobria uma operação policial no Complexo de Senador Camará, zona oeste do Rio de Janeiro, na tarde de quinta-feira (5).
Muzell, que trabalha para o canal Fala Glauber, acompanhava outros profissionais de imprensa na Estrada do Taquaral, uma das principais vias do bairro, quando registrava imagens de barricadas em chamas. Sem perceber que as equipes policiais haviam recuado, acabou cercado por cerca de 15 criminosos armados com fuzis e pistolas.
“Disseram que iam me matar porque achavam que eu era policial. Perguntaram se eu estava armado, respondi que era da imprensa. Mesmo assim, levei chutes e pontapés, implorando para não me matarem”, contou.
Mantido sob a mira de fuzis e obrigado a permanecer de cabeça baixa, o jornalista relatou que um dos agressores chegou a dizer que a arma havia falhado. As agressões continuaram mesmo após ele se identificar como profissional de imprensa. Ele sofreu fraturas dentárias, escoriações e luxações.
Durante o ataque, um dos criminosos afirmou que não iriam matá-lo para “não criar outro caso como o de Elias Maluco” — referência ao traficante condenado pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, em 2002.
“Essa frase ficou na minha cabeça por causa do colega Tim Lopes”, disse Muzell.
Além das lesões, o repórter teve equipamentos destruídos, incluindo filmadora, microfone, tripé e iluminação, com prejuízo estimado em R$ 40 mil.
Após ser liberado, foi levado por um motoboy até outro ponto da região, onde recebeu apoio de policiais do Batalhão de Choque. Encaminhado ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, recebeu alta na mesma noite.
O caso foi registrado na 34ª DP (Bangu), mas o jornalista não passou por exame de corpo de delito.
Com 15 anos de experiência na comunicação, Muzell viveu fora do Rio por oito anos e retornou ao estado no ano passado, atuando desde então na cobertura policial. Apesar do trauma, afirma que não pretende deixar a cidade:
“A dor física e psicológica é grande, mas a vontade de trabalhar é maior. Se eu desistir, eles vencem. Não vou dar esse gosto para eles.”
Durante a recuperação, ele lançou uma campanha de arrecadação para tentar repor os equipamentos perdidos.
“Coloquei uma vaquinha de R$ 25 mil para ver se consigo comprar equipamentos usados”, explicou.